OS EFEITOS DA CRISE NAS RELAÇÔES LUSO-BRASILEIRAS
As relações luso-brasileiras irão sofrer, como é inevitável, os efeitos da crise que atinge o mundo inteiro. Não nos referimos aos aspectos políticos dessas relações que esses, provavelmente, continuarão a fluir sem maiores solavancos ou contratempos, com os dois países a continuarem sintonizados em torno dos grandes princípios e linhas convergentes no plano mundial. Mas essas relações sofrerão, com certeza, no campo do comércio e dos investimentos recíprocos. Não temos mais empresas portuguesas, como ocorreu na segunda metade da década de 90, a entrar em cheio no processo das privatizações. Isso fez com que o país chegasse a ficar, durante alguns anos, entre os maiores investidores externos. Hoje, salvo um caso ou outro como o setor hoteleiro, pode-se dizer que o fluxo de investimentos estancou e, apontam para uma situação que já não será de todo ruim se forem mantidos, no nível atual, os estoques de capitais portugueses. Na direção contrária, ou seja, no campo dos investimentos brasileiros em Portugal, nunca saímos das iniciativas de algumas empreiteiras.
No que diz respeito ao intercâmbio comercial, a repercussão da crise também será negativa, mesmo que os governos não venham a tomar medidas protecionistas. Primeiro, é a desvalorização do real que agravou os custos das importações; segundo, é a falta de crédito e de competitividade por parte dos exportadores e, terceiro, é a perda de capacidade de consumo, sobretudo porque as exportações portuguesas para o Brasil estão centradas em grande parte nos produtos como vinhos, azeites, frutas, etc. Em épocas de “vacas magras” não é sinal de pessimismo prever algum encolhimento na balança comercial entre dois países de economias de reduzida complementariedade.
Depois, temos as relações culturais, que por portas travessas também se ressentirão dos impactos da crise. E nesse quadrante não é apenas o pequeno investimento dos governos, que esse já o sentíamos há muito, e agora só haverá mais justificativas para não se fazer nada, mas serão instituições privadas às quais devemos um esforço contínuo para que essas relações ainda mantenham uma dimensão e um dinamismo que, de alguma forma, conseguem esconder a inércia e a falta de vontade política dos Estados. Ora, atingidas pela crise, essas instituições – empresas, fundações e universidades – terão menos recursos para aplicar em bolsas de estudo ou em edições de livros, em centros de pesquisa ou em exposições de arte, em concertos ou em teatro, em congressos ou em cinema.
Mas, apesar do cenário, não podemos cruzar os braços e aceitar, resignados e quedos, a maré contrária. Da crise também se tiram lições – e dando um passo à frente, já será um sinal da nossa determinação de caminhar. Quando acreditamos num destino, esse destino acontece. E nós acreditamos que no mundo luso-brasileiro ainda há muito para construir, se quisermos que a construção esteja à altura da amizade entre dois povos.
Francisco Gomes Da Costa
Presidente da Associação Luis de Camões
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