HOMENAGEM A VERÍSSIMO SERRÃO
Faleceu no último dia 31 de julho, o nosso amigo e Presidente de Honra da Academia Portuguesa da História o Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, Mestre da Historiografia luso-brasileira que sempre prestigiou e enalteceu as realizações dos portugueses no Brasil.
Transcrevemos a “Homenagem a Veríssimo Serrão” por António Gomes da Costa em janeiro de 2008.
“Não poderia ser de maneira diferente. Primeiro, pelos méritos e pela erudição do autor; segundo, pela qualidade da Obra, indispensável para a compreensão da fisionomia histórica do Rio de Janeiro; e, terceiro, porque a iniciativa partira do ilustre Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Professor Arno Wehling. Sendo assim, o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu Literário Português, logo que consultados, colocaram-se à disposição dos responsáveis pelo projeto da reedição do livro “O Rio de Janeiro no século XVI”, de autoria do Prof. Joaquim Veríssimo Serrão. Em 1965, ano do IV centenário de fundação da Cidade, saíra a 1ª. edição, em 2 volumes, sob o patrocínio da Comissão Portuguesa das Comemorações, constituindo, um, a monografia e o ensaio histórico e reunindo, o outro, uma ampla e rica coletânea de documentos pesquisados em diversos Arquivos para alicerçar o estudo e enriquecer a narrativa, desde as cartas e alvarás régios aos instrumentos reservados dos governadores. Agora, imprimiu-se a 2ª. edição da Obra, com o apoio da Prefeitura da Cidade, e, por coincidência feliz, tudo acontece num ano também de celebrações: o bicentenário da vinda da Corte de D. João VI para o Brasil.
Por outro lado, esta é mais uma oportunidade para darmos testemunho do nosso profundo reconhecimento a um Mestre da Historiografia luso-brasileira que durante a sua vida e o seu magistério – nos livros, na cátedra e na Academia – fez sempre questão de prestigiar o
trabalho e de enaltecer as realizações dos portugueses do Brasil em todos os domínios. E de mostrar uma permanente disponibilidade para colaborar em nossas atividades culturais. Se queríamos, por exemplo, que o Prof. Veríssimo Serrão viesse ao Brasil nas celebrações do “Dia de Portugal”, pois era certa a sua presença, em “ lausperenes” cívicos inesquecíveis, quando proferia orações de exaltação à Pátria e à Grei no salão nobre do Real Gabinete Português de Leitura, junto à estátua de São Luiz de Camões. Ou, então, se tencionávamos realizar, no Instituto Afrânio Peixoto, um curso sobre a Cultura Portuguesa, ou sobre a História Moderna, ou sobre Herculano e a consciência do liberalismo, bastava escrever-lhe, a conselho de Pedro Calmon, dizendo-lhe do nosso propósito – e ele, interrompendo, muitas vezes, o seu trabalho e tirando dias de seu descanso, atendia de pronto os nossos pedidos. Vir ao Brasil, era um gosto que não escondia – e que o revigorava, tanto física como espiritualmente; e estar com os amigos brasileiros, ou com os seus compatriotas que vivem deste lado do Atlântico, era como sentir-se em família.
Poderíamos dizer, sem risco de exagerar, que nas últimas décadas, nenhum intelectual d’além-mar compreendeu e exaltou com tanto entusiasmo a Obra dos portugueses do Brasil como o Prof. Joaquim Veríssimo Serrão. Raros foram os que avaliaram, como ele, a dimensão daquilo que foi feito em todo o Brasil por aqueles homens humildes, sem bandeira e sem pendão, que um dia deixaram a Pátria de berço, as aldeias do Minho, o agreste de Trás-os-Montes, as Beiras ou as Ilhas adjacentes, para realizar em terras de Vera Cruz seus projetos de vida.
Sob esse aspecto, a linhagem de Veríssimo Serrão foi a mesma de Carlos Malheiro Dias, a quem devemos, não apenas uma obra literária e um trabalho de pesquisa de grande importância para o estudo dos Descobrimentos, trabalho que culminou com a edição monumental da “História da Colonização Portuguesa no Brasil”, mas também os fundamentos para a estruturação da própria comunidade portuguesa no
âmbito de suas associações representativas, de modo a reforçar uma unidade que era a expressão do patriotismo que se sobrepunha às divisões ideológicas e às divergências dos partidos políticos. Ambos – Malheiro Dias e Veríssimo Serrão, aos quais poderíamos juntar mais alguns, como Jaime Cortesão, adotaram uma postura bem diferente daquela seguida pela maioria dos intelectuais portugueses que por motivos políticos, antes do “25 de abril”, vieram para o Brasil, principalmente para a cidade de S. Paulo e que pouco interesse mostraram por se integrar na comunidade e por enriquecê-la com seu prestígio e seus méritos. Desconheceram suas aspirações e a importância dos patrimônios acumulados de raiz portuguesa. A comunidade era considerada e vista por eles com certo desencanto, como se estivesse alienada ao regime político que os perseguira e desgostava. Veríssimo Serrão, antes, nos consulados de Salazar e de Marcelo Caetano, ou depois, no período da democracia, manteve inalterada a sua posição de apreço e respeito pelos portugueses do Brasil e soube pontuar a grandeza e a coragem daqueles que trouxeram para o país de acolhimento, além da força e da energia criadora, a retidão de caráter e a vontade de vencer. E ainda o que havia de infinito em seus sonhos e o que há de melhor na alma portuguesa.”
A Associação Luis de Camões e seus fundadores brasileiros (Real Gabinete Português de Leitura, Liceu Literário Português e Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D. Pedro V) enviaram a seguinte mensagem:
“Foi com profunda tristeza que recebemos a notícia do falecimento do Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão. Perdem o país, a Academia e seus familiares a presença de um Homem cuja vida foi integralmente dedicada à História. Queremos juntar-nos à Academia Portuguesa da História, neste momento de luto, nas homenagens finais ao grande Historiador e Presidente”
Francisco Gomes Da Costa
Presidente da Associação Luis de Camões
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