AS ASSOCIAÇÕES E OS LUSO DESCENDENTES
Quando a imigração de Portugal passou a ter outros destinos além do Brasil – era natural que muitas das instituições que foram criadas e mantidas pela “colônia portuguesa” perdessem vitalidade e entrassem em decadência. Algumas chegaram a encerrar as suas atividades nas últimas décadas, ou porque se exauriu o patrimônio que possuíam, ou porque faltou capacidade de adaptação aos novos tempos e coragem aos associados para enfrentar os novos desafios da sociedade moderna.
Já tivemos quase 200 entidades com raízes ligadas à emigração portuguesa. Atuavam em diversos quadrantes, da assistência hospitalar ao ensino, da solidariedade à cultura, do desporto à música, do convívio e do lazer à mantença das tradições populares e religiosas d’além-mar. Um grande número dessas associações, como era o caso das “Beneficências” ou dos “Liceus”, dos “Gabinetes de Leitura” ou das “Caixas de Socorros Mútuos”, gozavam de um tal prestígio e tinham uma dimensão tão grande que os próprios governos se serviam delas para desenvolverem algumas de suas políticas. Era na saúde pública, por exemplo, com o caso dos hospitais; ou era nos quadros do ensino e das “artes e ofícios”, com o caso das escolas. Os equipamentos mantidos pela “colônia” eram dos melhores. Não admira, por isso, que o Imperador D. Pedro assistisse às aulas de Náutica no Liceu Literário Português, ou que as Beneficências tivessem tido um papel importantíssimo no combate às febres e pandemias.
Se aqui o movimento associativo era um dos pertences da “colônia”, do lado de Portugal, também esse movimento foi sempre considerado como expressão do patriotismo dos portugueses do Brasil: D. Luiz e D. Carlos conferiram o título de “Real” a várias entidades; os Presidentes republicanos, em suas visitas oficiais, foram solícitos em condecorações e Salazar estendeu o “depósito legal” ao Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro para que a entidade recebesse um exemplar das obras editadas em Portugal, além de abrir um crédito especial à “colônia” para que esta adquirisse na baixa “lisboeta” o Palácio da Independência.
Não faz muitos anos que atravessamos uma fase de grande prosperidade associativa: em muitas cidades, os hospitais das Beneficência eram os melhores apetrechados; os “Gabinetes de Leitura” tiveram a sorte de contar com admiráveis “mecenas”; as Casas de Portugal e as “casas regionais” adquiriam patrimônios e enchiam-se de associados; os clubes prosperavam e a “colônia” tinha uma elite fortemente comprometida com a construção da comunidade luso-brasileira. E era uma “colônia” que tinha poder econômico, num Brasil que iniciava a transição para se transformar na grande potência que é hoje.
Os tempos são outros. E hoje a preocupação maior não está em poder atender a “colônia” em alguma de suas carências, como acontecia no passado: um liceu mantinha-se para promover a alfabetização ou o ensino supletivo; uma Beneficência, para acolher o pobre vítima das doenças; um gabinete de leitura, para o comerciante da praça ler os jornais da “santa terrinha” ou para o caixeiro pedir por empréstimo os romances de Camilo Castelo Branco; um “Vasco da Gama” para se realizarem as regatas no calabouço e um Teatro Ginástico para a apresentação das companhias que vinham de Lisboa. O que é importante agora não é reviver o passado, mas apostar no futuro. E fazer-se a passagem do testemunho e dos patrimônios associativos remanescentes, de tal forma que não corram os riscos de se perderem – como tantos já se perderam. Decerto que não vamos conseguir esses objetivos se não ousarmos mais, ou se não contarmos com a contribuição e o apoio das novas gerações de brasileiros e luso descendentes.
FRANCISCO GOMES DA COSTA
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO LUÍS DE CAMÕES
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