Francisco Seixas da Costa

ANTÓNIO FRANCO

” A lealdade para com os amigos e a elevada exigência para consigo mesmo estavam-lhe coladas à pele. Vivia, sem a menor dificuldade, esse comportamento extremo de rigor, mas sempre num tom nada macambúzio, com um eterno espírito de bonomia, de graça, de alegria de vida.

Falámos pelo telefone, pela última vez, na passada semana, a minutos de ele partir para o hospital, de onde já não sairia. Estava a comer uma “bacalhauzada”. A mim, sem o menor jeito para estas cenas, saiu-me um qualquer dito tolo. A reação dele foi: “Que diabo de frase é essa?” Dias antes, num prenúncio, tinha-me dito que, sem remorsos, estava a ter a paga dos prazeres e da liberdade de que nunca se privara, ao longo da vida.

Acabo de saber que morreu António Franco, um colega um pouco mais velho do que eu, a conselho de quem entrei para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e que, curiosamente, viria a substituir no seu último posto como embaixador. Conhecemo-nos na parada de Mafra e fomo-nos encontrando a partir daí pela vida, com imensa frequência e regularidade.

Fomos muito amigos. Se posso contar os meus amigos dos dedos de uma mão, o António, sem a menor dúvida, foi um deles. Por décadas, cultivámos imensas cumplicidades, de toda a natureza. Em todos os passos importantes da minha vida, consultei-o sempre antes, pela certeza do seu bom senso e do seu equilíbrio.

Nos últimos anos, por motivos que para aqui agora não importam, não olhámos da mesma forma para algumas coisas e isso afastou-nos um pouco. Tive muita pena. Porém, nos últimos meses, voltámos a falar bastante. E isso fez-me muito bem.

A morte do António não foi uma surpresa, já era prenunciada por uma mensagem recebida da Ana, há escassas horas. Sinto-me muito triste com a partida do António.

Para a Ana e para os filhos do António, a quem ele se dedicava sem limites, deixo aqui um forte abraço e o nosso imenso pesar.

Francisco Seixas da Costa 
Embaixador “

( Fotografia inserida na publicação Liceu Literário Português, Ensino e Cultura 1868-2016, de Carlos Francisco Moura, Rio de Janeiro, Outono de 2016, pág. 67 )

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