A PANDEMIA E OS IDOSOS
Embora provoque graves repercussões no campo social, no econômico, no político, no âmbito da família, etc, o fenômeno do envelhecimento das populações é cada vez maior.
As melhorias nas condições de vida, os avanços na medicina, a descoberta e o uso de vacinas, a alimentação e a higiene, o saneamento e os cuidados da saúde, para referirmos apenas alguns fatores, concorrem para que o envelhecimento demográfico continue a expandir-se e fazem com que as estimativas médias da vida humana se elevem cada vez mais, principalmente nas regiões mais desenvolvidas.
O aumento do número de idosos provocou fortes mudanças nas famílias e na própria sociedade como um todo. Nas famílias, porque mesmo sem se falar em quebra de solidariedade entre gerações, houve dentro delas um enfraquecimento visível na estrutura afetiva que deve existir entre seus membros. E vieram também outras causas. A inserção da mulher no mundo do trabalho que gerou uma perda nos serviços domésticos que, em grande parte, beneficiavam o idoso dependente dos cuidados de terceiros. Antigamente, era um dever dos filhos tratar dos pais quando estes não podiam mais trabalhar ou prover ao seu sustento, e quando ficavam diminuídos fisicamente e inválidos. Hoje, o sentimento da gratidão pode existir na mesma; no entanto, não é tão fácil prestar assistência e acolhimento às pessoas a que estamos ligados por sentimentos e pelo sangue. A atividade profissional tornou-se mais exigente; as residências não têm o mesmo espaço físico, sobretudo nos centros urbanos; a célula familiar não dispõe da homogeneidade de outrora, etc.
O impacto do envelhecimento da população na sociedade como um todo começou por refletir-se visivelmente nas estruturas da segurança social e da saúde pública com desequilíbrios crescentes e insuportáveis.
Se nos países ricos o problema do idoso é um problema sério, no Brasil é mais grave. Primeiro, porque não existem políticas sociais razoavelmente eficazes de proteção à velhice. Os valores das aposentadorias são quase sempre ridículos e não dão, muitas vezes, para pagar os remédios do mês; não se construíram “lares” nem “centros de repouso” para a velhice; não existem equipes para o apoio a domicílio; o sistema de saúde pública é precário; tudo são carências e dificuldades – e ninguém cuida da revalorização do papel dos idosos na nova fase de sua vida.
Por seu lado, as células familiares estão sufocadas por compromissos de toda a ordem – e os membros ativos nem atenção podem dar aos velhos. Também as comunidades pouco investem em solidariedade e não há condições de uma parceria positiva entre o poder público e os particulares.
Perante este quadro de devastação da Covid 19 que tem vitimado em sua maioria os idosos, será que não chegou a hora do Governo e a sociedade intervirem de uma maneira mais eficaz em favor dos velhos? Não é altura de despertarmos para uma realidade que atinge em cheio o nosso próprio cerne e natureza? Vamos continuar a assistir diariamente a dramas pungentes de idosos a morrer de Covid, de fome, caídos na miséria e na rua, sem um hospital e sem um lar, sem remédio para o tratamento ou sem uma palavra de conforto ou um raio de esperança?
A velhice é uma benção e não uma praga.
Francisco Gomes Da Costa
Presidente da Associação Luis de Camões
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