AS ÁRVORES E AS INSTITUIÇÕES

Ao ler o livro “Inteligência Verde” do Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ sacerdote jesuíta, Reitor da PUC – Rio, me lembrei das árvores. Estas, alguém as planta pensando nos frutos que vão dar e na sombra que irão oferecer. Cuida-se delas, enquanto pegam e florescem, na rega e na poda. E crescem: saem do caule os primeiros ramos; depois, os bagos aparecem, como brincos, entre as folhagens; logo a seguir, resultam os frutos que amadurecem. Não falta quem os venha colher para saboreá-los e, de vez em quando, um viajante foge do calor do estio deitando-se sob as ramagens.

Mas a árvore, mesmo crescida e robusta, não dispensa o tratamento: a terra precisa de ser adubada e há as limpezas e as enxertias, os sulfatos contra os insetos e os inseticidas a afugentar as formigas. Bem tratada, ela fica mais forte, o tronco avoluma-se, os ramos estendem-se e os frutos multiplicam-se. Até os pássaros vêm fazer ninho entre os galhos e ramarias, sem se preocuparem com os namorados que, ao pé, trocam juras de amor…

De ano para ano, as raízes vão furando a terra à procura de veios de água, enquanto as cepas resistem às ventanias que ameaçam arrastar tudo na sua fúria.

Um certo dia, entretanto, a árvore, amiga e frondosa, começa a enfraquecer. E enfraquece, nem sempre por causa da longevidade, senão pela seiva que não se forma. Deixaram de cuidar dela – ou sangraram-na, não com a prudência do seringueiro que depois do corte da casca sabe até que altura deve encher as tigelas com o látex, mas com a avidez do lenhador que a deseja seca o mais rapidamente possível para a dividir em toras e carregá-la, entre matos e plantas arbustivas.

Os frutos já escasseiam, as folhas levadas pelo vento já não dão sombra, os galhos estalam de podres, os pássaros voaram para longe e, ao redor, há o cheiro do esterco e das cascas podres, sem resina e sem silvas ao redor.

A metáfora se aplica sob medida nas instituições – ou, pelo menos, nalgumas que conhecemos e admiramos, crescendo e dando frutos, geração após geração, e que hoje, porque os tempos são outros, ou porque as administrações falharam, perderam muito do seu vigor e prestígio, deixaram de ser viveiros de cidadania para se transformarem em condutos por onde circulam ambições pessoais e interesses pouco transparentes. 

Temos um exemplo desta metamorfose em muitas instituições que brilharam na história do nosso associativismo. Decerto que ocorreram profundas mudanças, nas áreas que atuavam, que, por si só, poderiam levar a crises e a insolvências. Mas o mais grave, em muitos casos, deu-se no comando das instituições – e na seqüência dos desacertos e dos desvios da gestão. Enquanto não havia muitos recursos, tudo funcionava em equilíbrio: os patrimônios aumentavam, os objetivos sociais eram respeitados e cumpridos, as conquistas e as realizações apareciam. Depois, com a entrada de receitas, abandonaram-se os preceitos da boa governança e os dirigentes passaram a servir-se das entidades e não a servi-las. Tal como as árvores carcomidas pelos bichos e arrancadas pelas intempéries, as entidades definharam e acabaram por perder o prestígio e a eficácia que tiveram noutros tempos.

Francisco Gomes Da Costa
Presidente da Associação Luis de Camões

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